Por Nicolau Neto, professor.
O Brasil ultrapassou deste sábado, 08 de agosto para hoje, domingo (09), a marca histórica e estarrecedora de 100 mil mortes pelo novo coronavirus (a Covid-19).
São dados chocantes, mas que infelizmente ainda não consegue chocar e sensibilizar quem mais deveria e poderia fazer algo para diminuir essas perdas.
Vidas humanas que se foram, mas que poderia, grande parte delas, ter sido evitada se tivesse tido por parte do governo federal um compromisso desde o início em propor medidas efetivas de combate a pandemia e principalmente se não tivesse ido contra as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) ao causar aglomeração, não usar máscara em certas ocasiões e adotado um comportamento infantil de tentar a todo custo desmerecer aquelas adotadas por estados e municípios.
Em meio à maior crise sanitária e de saúde pública do século XXI, o presidente se deu ao luxo de perder dois ministros da saúde com formação na área simplesmente pelo fato de terem tentado seguir o que manda a ciência. O Brasil chega hoje mesmo com todos esses dados e especialistas afirmam que estão subestimados, o que leva a crer que poderia ser 150 mil mortes ou mais, a quase três meses sem titular no ministério da saúde.
Duas trocas de ministros, minimização da pandemia, ataque a veículos de comunicação que realizam a cobertura da pandemia e nenhuma, nenhuma medidas ou plano efetivo de combate foi apresentado até agora.
O presidente da República, aliás, continua a desdenhar das vidas perdidas, das famílias dessas vítimas. Não bastou afirmar que era “só um gripezinha” ou que “não era coveiro”. Agora, com mais de 100 mil mortes, ele diz que é necessário “tocar a vida.”
É necessário destacar e ao mesmo tempo reiterar que a Covid-19 atinge a todos. Mas atinge mais a uns do que a outros em virtude de uma desigualdade social histórica no pais. Desses mais de 100 mil mortos, a maioria é negro/a. É impossível, portanto, dissociar a pandemia do racismo e das desigualdades dele resultante.
A pandemia escancarou mais ainda não só a incapacidade de Bolsonaro em governar o pais, mas também os impactos gritantes da pandemia com a população e especificamente com a população negra e indígena que são as mais afetadas.
A Coalizão Negra por Direitos que agrega mais de 100 entidade de movimentos negros pressionou para que o Ministério da Saúde e as secretarias de saúde dos estados divulgasse os dados levando em consideração a cor e o gênero. Não se pode simplesmente dizer 100 mil. Mas em um país como o Brasil que se formou as custas da escravidão e permanece se sustentando as custas das desigualdades e do racismo, é preciso perguntar quem são essas 100 mil vidas perdidas.
Os dados que chegaram demonstram que a cada três negros/as hospitalizados/as por Covid-19, um/a morre. Já entre brancos esse número chega a uma morte por cada 4,4 internação. Segundo informações da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), os números de casos de coronavírus nas comunidades somam atualmente 23.339 pessoas contaminadas, com 651 mortes e 148 povos afetados pela doença.
Negros e negras, além de indígenas são os mais atingidos pela pandemia em virtude do racismo estrutural da sociedade brasileira que faz com que eles/as tenham pouca ou quase nenhuma acessibilidade à saúde pública, um direito constitucional.
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