top of page

A Educação-mercadoria, o ensino remoto e a política da gambiarra

Por Darlan Reis Jr., professor


No Brasil, a Educação é o setor onde os trabalhadores do setor são os menos ouvidos: os patrões do ensino privado, os "gestores" do ensino público, os governantes e a mídia falam em Educação, chamam "especialistas" (membros de fundações privadas, advogados, economistas, administradores de empresas, engenheiros etc) para falar sobre Educação, mas não chamam os professores!


Com a pandemia isso ficou mais evidente. Na mídia, todos dão opiniões e falam em datas para o "novo normal" na educação: aulas via ensino remoto e a volta às aulas presenciais. Apenas os professores e professoras não são chamados enquanto coletivo, talvez chamem algum professor que diga o que eles querem ouvir: os interesses do mercado, dos donos de escolas, ou os interesses de algum governo que não liga a mínima para a vida das pessoas mais pobres. Mas a categoria organizada, jamais! Não chamam, não querem ouvir o que dirão os professores organizados, sobre toda esta situação.




Aspecto crucial da luta de classes: trabalhadores de determinado setor terem o poder de deliberação sobre suas vidas, sobre seu trabalho, sobre as condições de trabalho. Isso é impensável na cabeça do patrão, do "gestor" público que defende o Poder, dos governantes que só querem manter tudo como está, não obstante a propaganda que veiculam na mídia.


Assim prolifera o discurso do "novo normal", recheado de afirmações sobre dois pontos: o "ensino remoto" e a volta às aulas presenciais. Vamos ficar apenas em um ponto nesse texto: as condições materiais. Poderíamos discutir aspectos pedagógicos, psicológicos, mas ficaremos apenas na condição material.


Sobre o "ensino remoto", a questão material central é: QUANDO os governos colocarão os recursos de infraestrutura para que ele de FATO aconteça para todos? No conjunto da educação pública brasileira, onde estão a entrega de milhares de computadores e de acesso de internet para o conjunto dos estudantes? A frase que sintetiza isso é: "CADÊ A INTERNET?". Falar sobre ensino remoto se não existe internet que chegue ao estudante, sem computador para ele acessar, é como querer utilizar um automóvel com motor a combustão, mas que não tenha gasolina no tanque, não tenha pneus para rodar e não tenha bateria para acionar o motor. Como esse carro se moverá?


Em matéria veículada em 30 de Junho de 2020, o jornal Diário do Nordeste afirmou: "CE tem 65% das escolas públicas sem saneamento básico adequado: "Levantamento mostra que quase 4 mil instituições de ensino público não possuem oferta de água potável, coleta e tratamento de esgoto ou drenagem urbana; cenário preocupa com retorno presencial durante a pandemia"¹ .

E o jornal demonstra que mais de 20% das escolas não tem coleta de lixo regular! De lixo!


Sobre o retorno às aulas presenciais, a questão material é: já construíram novas salas de aula, com espaço amplo que garanta o distanciamento de 1,5 metros entre os estudantes? Fabricaram milhões de equipamentos de proteção para entregarem aos servidores, professores, estudantes? Resolveram o problema da higiene nos banheiros? O saneamento básico? E o TRANSPORTE dos milhões de estudantes pelo Brasil afora? Já está sendo providenciado a compra de milhares de ônibus para levar os estudantes, já que as "aulas tem que voltar agora"? Onde estão essas notícias?


Enquanto isso não for discutido, enquanto os professores não forem ouvidos, bem como os demais trabalhadores da Educação, não adianta as boas intenções de "questionários virtuais" perguntando aos estudantes se eles podem acessar a internet ou não... Não adianta fazermos questionários virtuais, eventos virtuais, palestras virtuais se a maioria dos estudantes não consegue acessar! É básico. É o mínimo. Não adianta dizer que "somos todos pela Educação" e não ouvir os professores e professoras. Não adianta alguns docentes darem uma de "isentões", fingirem que o problema não existe e cuidarem apenas do próprio umbigo, da sua aula, palestra e dizer que estão fazendo o que podem. É preciso que os professores e professoras se organizem politicamente e nacionalmente e façam ouvir a sua voz. Ou então, aceitem tentar fazer o "carro andar", sem gasolina, sem pneus e sem bateria.




Bình luận


bottom of page