Por Darlan Reis Jr (historiador)
Não é fácil fazer política institucional, aquela formal, eleitoral. Nem a outra política, a que leva em conta também as forças sociais e suas lutas, não apenas as eleitorais.
Mas vamos ficar no campo da política dentro dos atuais parâmetros institucionais.
Não é fácil. Além do jogo desigual, relacionado à estrutura econômica e de poder, existe o aspecto da capacidade de analisar a conjuntura, o planejamento estratégico e tático, a disponibilidade de tempo e de recursos, a habilidade do diálogo e a firmeza.
O pessoal que acha que é fácil, deveria entrar em um partido político e se chegasse à condição dirigente, veria que, fazer tudo aquilo que os bons sentimentos de quem vê de fora e acha ser possível, não é assim que funciona.
Primeiro porque não depende só do seu partido, mas sim dos aliados. Dentro dos partidos é preciso ter a resolução política correta e aceita por seus militantes. O entendimento da diferença entre princípios, diretrizes, programas, planejamentos, propostas, agitação e propaganda.
Segundo porque precisa de lastro popular, ter capacidade de alcançar o maior número de pessoas, sem cometer a prática do hegemonismo, que não deve ser confundida com hegemonia.
Terceiro, para quem se define como Esquerda que não seja de Gabinete (essa é aquela que visa apenas ocupar cargos para benefício pessoal, defende o status quo apesar do discurso social), a política eleitoral serve como meio de luta e de defesa de conquistas para o povo, mas não é um fim em si mesmo.
Os apelos à unidade da Esquerda são válidos, são necessários, mas se não estiverem relacionados a algo maior, são apenas sentimentos bons, porém estéreis do ponto de vista do resultado. Qual é a plataforma mínima, além daquelas de defesa (resistência, "fora Bolsonaro", etc)?
O que queremos como projeto mínimo de país? Para além dos slogans tradicionais? O que propomos romper de imediato se alcançássemos o poder político institucional atual? E quais são os nomes indicados para ocupar estas funções - vereador, prefeito, deputado, senador, governador, presidente?
Se os projetos são pessoais, mesmo de pessoas honestas, lutadoras e capazes, ficamos reféns da lógica do sistema. A lógica do sistema induz a pensar que política é coisa somente de profissionais, basta votar e opinar sem se organizar, cidadania é estar em dia com a Justiça Eleitoral, dar palpite aqui e ali e pronto.
Está mais do que na hora de quem sente a necessidade de mudança política, fazer parte da política no dia a dia, ajudar a fortalecer os partidos políticos de sua preferência e parar de deixar que os outros decidam por nós.
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