Por Sued Carvalho, professora
Juazeiro do Norte, dia 29 de maio de 2021, um grupo formado por militantes de Partidos de Esquerda e movimentos sociais fecham a Rua São Pedro, principal artéria no coração desta cidade do interior cearense. Nas calçadas, indivíduos, vivendo suas vidas normais, esbarram-se em calçadas pouco largas e, irritados com o bloqueio, dezenas, talvez centenas de carros, buzinam efusivamente, entre eles, alguns ônibus lotados.
Cenas como as de Juazeiro do Norte se repetiram por todo o Brasil. Quando foram anunciadas as manifestações, muitos, entre receosos na esquerda e reacionários de Direita, afirmavam que seria hipócrita por parte dos movimentos sociais e Partidos organizar manifestações de rua, pois causariam aglomerações e poderia potencializar a infecção por coronavírus.
Bem, em primeiro lugar, esse fato não passou despercebido pelas coordenações de ato nos mais de oitenta municípios que vivenciaram essas manifestações, que organizaram-se para garantir que cada pessoa recebesse uma máscara pff2, assim como um fornecimento de álcool em gel suficiente para limpar mãos e objetos usados nos protestos, portanto não é possível comparar o dia 29/05 com as motocadas do presidente, que tocam um belíssimo foda-se para as medidas de segurança, com indivíduos sem máscara a agredir jornalistas.
Outra coisa que tem que ser dita é: As manifestações não causaram aglomeração alguma, a aglomeração nas ruas onde ocorreram tais movimentos já estava plenamente instaurada. Os causadores são os governadores, prefeitos, que afrouxam, usando critérios duvidosos e não contando com testes em massa, e, principalmente, o Presidente da República, o miliciano Jair Messias Bolsonaro, que sabotou a vacinação da população, lockdown e propagandeou medicamentos de ineficácia comprovada.
A questão é: Aglomeração para a mais-valia dos patrões é permitida, para a luta contra a fome, pela vacinação e pelo fora Bolsonaro não. É uma questão de conveniência, estritamente política.
As pessoas estão na rua, em ônibus lotados, muitas vezes vindo de residências que não contam com a devido saneamento básico. O povo está na rua, tendo que trabalhar para não morrer de fome, um mal que já tem atingido mais de cem milhões de brasileiros. A esquerda deveria ficar, hipocritamente, em casa, fazendo posts pouco efetivos em redes sociais e entrando com processos natimortos no STF? Devíamos ficar esperando o Sr. Luiz Inácio concluir suas alianças com a direita reacionária?
Afirmam que a esquerda é irresponsável chamando atos de rua? Que privilégio a esquerda brasileira tem de ficar de pernas estiradas enquanto companheiros latinos estão, na Colômbia e no Haiti, a serem mortos por lutar e no Myanmar, na Ásia, por lutarem contra um golpe militar? O que diferencia a esquerda brasileira dessas esquerdas na obrigação da defesa dos trabalhadores? Na Colômbia os movimentos deveriam ficar fazendo twittaços enquanto uma reforma nefasta é aprovada? No Myanmar deviam ficar em casa enquanto os militares tomam o controle?
No Brasil devemos ficar parados enquanto reformas continuamente tornam a vida do povo ainda mais miserável e um genocídio é perpetrado? Que privilégio achamos que temos?!
As aglomerações NÃO FORAM causadas pela esquerda em protesto, elas eram anteriores a nós.
https://www.istoedinheiro.com.br/mais-de-116-milhoes-de-brasileiros-nao-tem-comida-suficiente-ou-passam-fome-diz-pesquisa/
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