Por Nicolau Neto, professor.
Não é fácil conviver. Não é simples conviver. Ou melhor, simples é. A grande maioria é que acaba por complicar o que parece fácil e simples.
Complicam quando colocam interesses particulares acima do coletivo; quando acham que a sua religião é a verdadeira e as dos outros não. Que o seu deus salva e o do outro não. Quando isola ou expulsa o outro ou a outra de um determinado lugar – mesmo que esse lugar seja o que convencionou-se chamar de “sagrado” – só porque ele ou ela não creem em deus; complicam ainda quando só o seu partido político pode fazer uma boa administração e outro irá apenas se beneficiar e esquecer os interesses sociais.
Complicam mais quando achamos que só os homens podem ocupar cargos políticos e que as mulheres devem apenas acompanha-los em cerimônias; quando pensam e agem de tal modo que somente homens e mulheres brancas é que devem ocupar os mais variados espaços de poder e contribuem para perpetuar o racismo, a homofobia e o machismo no ambiente político partidário.
Conviver acaba por se tornar difícil e complicado quando quem mais poderia ajudar a superar as desigualdades sociais são os que fazem de tudo para que ela permaneça, pois sem ela não há como se manter nos mais variados cargos políticos. Ter uma infinidade de pessoas passando necessidades em casa, tendo que vender a janta para almoçar no dia seguinte se torna um prato cheio para os políticos de carreira, pois é a sua garantia da volta ao poder, ou permanecer nele. Irônico, não é?
Me entristece quando vejo e escuto que a gente tem que trabalhar por amor e que qualquer tentativa que frustre esse delirante pensamento é tachado como um ato de rebeldia extrema e que o simples fato de lutar por melhores condições de trabalho pode ser visto como um fato político partidário.
Entre o trabalhar por e com amor há uma distância considerável. Fico entristecido de igual modo quando uma causa que é de todos, acaba não sendo abraçada por todos. Nenhum espaço de trabalho pode ser visto como um templo religioso e nenhum trabalhador pode se deixar confundir com um sacerdote, embora a realidade nos mostre que muitos se tornam um.
Infelizmente essa é a realidade, onde a regra do jogo é pré-estabelecida e a grande maioria não tem a audácia de mudá-la.
Mas há espaços para a esperança? Esperança de um mundo onde o princípio constitucional estabelecido em seu Art. 5º que diz “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade...”
seja respeitado?
É possível manter a esperança em um país onde os direitos que custaram mais caro ao povo como a direito de escolher seus próprios representantes não estão sendo levado em conta por simples apego ao poder? A esperança deve ser mantida em um pais onde a cor da pele ainda define que lugar ocupo na sociedade? Posso ter esperança aonde a religião ainda reina absoluta condenando quem possui orientação sexual divergente da que elas acreditam ser a correta? Há espaços para a esperança onde números valem muito mais que pessoas, principalmente na educação?
Sim. É possível um mundo melhor.
É necessário manter a esperança viva e bem viva. As poucas luzes no fim do túnel acenam que o caminho é a educação. A esperança se mantém quando testemunhamos alunos fazendo o que muitos professores e professoras não fazem – lutar por um espaço de estudo melhor para si para seus mestres, além de questionar as estruturas políticas de seus municípios.
Enfim, cá estou condenado à esperança!!!
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