Por Camila Faria Pançardes*
Faz algumas semanas, veio do Planalto –que aos poucos vai ganhando a forma viva de um dos agentes do imperialismo estadunidense na atualidade– o alerta em que a Igreja Católica foi “considerada opositora” do governo. Recheado de representantes daquilo que comumente chamamos de “porta vozes da extrema direita” setores do governo, como a ABIN e parte da inteligência militar, monitoram o que consideram um avanço da Igreja Católica na liderança da oposição ao governo Jair Bolsonaro (PSL). "(...)a Igreja é uma tradicional aliada do PT e está se articulando para promover debates antes protagonizados pelo partido no interior do País e nas periferias(...)" . As informações são do jornal O Estado de São Paulo. Entretanto, a pergunta que faço para o “desgoverno” atual é a seguinte: “De qual Igreja, vocês falam?”
Ainda esta semana fomos todos brindados com a sinceridade do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral ao afirmar que os esquemas de corrupção no estado contava com a participação ativa de setores da Igreja Católica.
A Igreja oficial corrobora com o projeto que avança o conservadorismo no Brasil e no mundo, ou seja, com a política oficial. Certa feita, entrevistando um intelectual, no centro de São Paulo, ele ao final pediu para falar sobre o que ele chamou de “mediocrização” na formação de seminaristas, na atualidade. Segundo este intelectual, o Vaticano tem claro o projeto de formação não politizada. Bons tempos foram os do Concílio Vaticano II !
O planalto, com certeza, se referiu à esquerda católica e o trabalho das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), que de fato pode ser e deve ser considerada uma “ameaça”. Para alguns estudiosos, os setores progressistas da Igreja haviam encerrado sua práxis faz tempo, dado o projeto neoliberal e a criminalização dos movimentos sociais. Mas o que se vê é que sua fundamentação, a Teologia da Libertação, permanece atual. Sua prática cotidiana demonstra que a resistência existe e se faz a muitas mãos. Haja visto, os movimentos sociais que bebem dessa fonte e alimentam suas lutas como o MST, a CPT e tantos outros.
Não custa lembrar que historicamente a esquerda católica teve papel determinante na formação política de militantes, intelectuais e movimentos sociais. Foi uma das forças na construção do Partido dos Trabalhadores. O cerne da questão está aí.
O mesmo intelectual que mencionei a pouco, falou também do papel da esquerda católica na construção de consenso junto aos governos PT – Lula (2003 – 2010) e Dilma Rousseff (2011 – 2016/ golpe de Estado). Existe sim essa relação entre esquerda católica e PT, senhor Ministro! Mas como tudo no campo da política, possuí tensões e distensões. Falarei disso com mais profundidade na tese de Doutoramento que estou concluindo pela Universidade Federal Fluminense. Aguardem!
O que nos interessa disso tudo é compreender que a luta “contra corrupção” empreendida pelos setores golpistas e conservadores que chegaram ao poder é, em suma, a luta contra o PT e contra toda e qualquer voz que ousar questionar as hipocrisias, a incompetência, os desvios éticos e os sombrios envolvimentos políticos e sociais do governo e de seus representantes. A ação do governo em "monitorar" a esquerda católica abre uma frente de esperança na resistência. Movimentos sociais, partidos progressistas -entre eles o PT- incomodam e podem sim ser espaços de uma ação política de enfrentamento ao conservadorismo. Não imaginem que a nossa leitura sobre o PT e os governos Lula e Dilma são ingênuas. As críticas existem e a autocrítica, dos quadros do próprio PT, também. O que não se pode perder de vista é que trata-se de questão vital superamos esse momento histórico e se faz urgente prosseguirmos nas lutas sociais anticapitalistas.
Agora que enche meus olhos ver o combate às CEBs e a Teologia da Libertação por este “desgoverno”, isso enche!
Camila Faria Pançardes
Assistente Social, professora e doutoranda pelo Programa de Estudos Pós-graduados em política social na Escola de Serviço Social da UFF.
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