Por Vagner dos Santos, professor.
Todos já devem ter ouvido falar sobre a rede 5G. Trata-se de um avanço extraordinário em termos de transmissão de dados pela internet. Hoje, a tecnologia permite a muitas pessoas usarem o 4.5G, porém o 5G promete ser 50 vezes mais rápido do que a rede de transmissão existente hoje... será a super internet.
Toda esta capacidade de transmitir dados, vai permitir que o mundo tenha acesso à chamada Internet das coisas. Tudo estará conectado, inclusive com várias tecnologias como a dos carros autônomos, que poderão ser programados para andar pelo trânsito das cidades e nos levar a qualquer local sem que precisemos dirigir. A Inteligência artificial e o Big data (nome de novas tecnologias que começam a se disseminar e que tendem a mudar radicalmente o dia a dia das pessoas) só são possíveis de serem implementadas com uma internet muito rápida e segura como a tal do 5G.
O 5G se constitui de um conjunto de equipamentos e softwares, dotados de alta tecnologia, que serão espalhados pelas cidades para permitir acesso a esta internet do futuro; portanto, quem tiver controle sobre a tecnologia desta rede, terá muito poder neste anunciado mundo novo.
Hoje, no mundo, apenas três empresas estão em condições de instalar a rede 5G: Nokia (finlandesa), Ericsson (sueca) e Huawei (chinesa). Dessas empresas, a chinesa é a que tem mais tecnologia e melhor preço. Neste cenário, os EUA entram com o objetivo de impedir que a empresa chinesa espalhe sua tecnologia pelo mundo, tornando-se o grande player tecnológico mundial.
Os americanos estão em desvantagem pois não possuem nenhuma grande empresa para competir com as três grandes do mundo, mas o país está se movimento para ser um protagonista nesta área. O objetivo é impedir, de imediato, o avanço chinês enquanto se articula para viabilizar alguma empresa concorrente. Uma das estratégias dos EUA, sobretudo do governo de Donald Trump, é insistir na tese de que a empresa Huawei usa sua estrutura do 5G para espionar governos e populações pelo mundo e, por essa razão, não permitirá que empresas norte americanas comercializem produtos da empresa chinesa.
Essa tese da espionagem é antiga, vem desde o ano 2012, porém, na ocasião, o governo Obama não encontrou indícios de que os produtos da Huawei pudessem ser usados para espionar o governo e os cidadãos americanos. Desde aquela época, a empresa chinesa ganhou força e a partir do seu mandado, Trump a elegeu como sua grande inimiga. Uma das ações do governo Trump contra a Huawei começa a fazer efeito: o embargo comercial contra a empresa chinesa. Inglaterra, França e alguns outros países, ameaçam não adquirir a tecnologia 5G dos chineses por causa de possíveis fragilidades tecnológicas.
O que ocorre é que o embargo americano está impedindo a Huawei de adquirir algumas peças e softwares que utiliza no seu sistema 5G de empresas sediadas nos EUA. Apesar de ter a melhor tecnologia na montagem da rede 5G, trata-se de um sistema muito complexo, que envolve uma quantidade enorme de equipamentos periféricos que os chineses compram de empresas de outros países, inclusive dos EUA. Com o boicote, os chineses estão usando peças de outras empresas, de qualidade inferior, que segundo os ingleses e franceses, poderá comprometer a qualidade final da rede, por isso, argumentam que vão buscar outro fornecer para a instalação do 5G em seus territórios.
A questão central é que o custo da rede 5G dos países nórdicos (alternativa à China) é bem mais elevado, num processo de instalação que já é, naturalmente, de valor bilionário. O custo da rede da Huawei é menor pois existe um forte subsídio do governo chinês, para o qual é estratégico estar à frente nesse processo tecnológico. Agora, o governo Trump articula a possibilidade de grupos americanos assumirem o controle da Nokia e da Ericsson como forma de neutralizar o avanço da empresa chinesa. O governo dos EUA e seus aliados insistem na tese da espionagem e dos riscos de ficarem dependentes dos chineses numa estrutura tecnológica que será dominante no século XXI. Esses dois pontos, segundo argumentam, é fator para bloquearem os chineses.
É uma guerra, de fato, de grandes interesses pois centenas de novos negócios na área de produtos e serviços só serão viáveis com a estrutura de internet na velocidade do 5G.
Quanto ao Brasil, o país ainda não definiu qual empresa vai contratar para instalar o 5G no nosso território mas os americanos estão fazendo muita pressão para que os brasileiros rejeitem as vantagens oferecidas pelos chineses. Vale lembrar que esta decisão ficará a cargo do Ministério das Comunicações e deverá ser tomada nos próximos meses.
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