Por Marcione Oliveira, professor.
Volta Redonda é realmente uma cidade histórica.
Em 1988, na transição da ditadura militar para a redemocratização, houve uma greve que mobilizou toda a cidade. Metalúrgicos e metalúrgicas ocuparam a Usina Presidente Vargas, por melhores salários e condição de trabalho. Não satisfeito com isso, o governo federal declarou a intervenção do exército, por considerar Volta Redonda uma cidade de segurança nacional.
Naquela ocasião, 3 trabalhadores foram mortos pela ação do exército, mas, dizem que a tragédia poderia ter sido muito maior se os soldados tivessem adentrado ao interior da fábrica, local desconhecidos por eles. A mobilização da cidade se deu muito pela liderança do bispo dom Waldyr Calheiros junto à Igreja Católica.
Passados 4 anos, em 1992, o Sindicato dos Metalúrgicos teve uma eleição com o discurso de que com privatização da CSN, o trabalhador ficaria rico comprando ações da empresa e a cidade iria melhorar. A Força Sindical ganhou as eleições no Sindmetal.
Desde então esse grupo de sindicalistas acumulou força e sempre dava um jeito de não ter concorrência para a disputa do pleito: seja escondendo edital, fazendo editais que o favorecessem ou denunciando os operários adversários que eram oposição a eles para serem demitidos.
Encastelados no sindicato, esse grupo usava todos os artifícios ilegítimos para se perpetuarem à frente da direção do sindicato, que um dia foi dos metalúrgicos. No entanto, depois de longa e cansativa maratona judicial, os dias de ocupação ilegal do Sindmetal pareciam estar contatos. Com legitimação judicial, a diretoria pelega e traidora seria obrigada a ver verdadeiras lideranças metalúrgicas se articularem na disputa de eleições para a secessão sindical.
A batalha agora seria montar uma chapa que pudesse concorrer, mas cujos integrantes deveriam se abrigar no sigilo absoluto, pois da mesma forma do passado, se os nomes oposicionistas chegassem à direção da empresa, estes ou estas seriam demitidos.
Em pleno processo de conquistar trabalhadores para a chapa de oposição aos sindicalistas da Força Sindical, Benjamin Steinbruch, deu uma declaração dizendo que a empresa teria tido lucro de 13 bilhões de reais. Esse seria o maior lucro da história da empresa. O impacto foi imediato, a indignação com o descaso do patrão para com as aflições dos trabalhadores, alimentaram um sentimento de luta por justiça. Cerca de 40 trabalhadores do andaime cruzaram os braços na parte da manhã, reivindicando que campanha salarial (acordo coletivo 2022) não tratasse apenas de abonos e incluísse na pauta de discussão a participação nos lucros e resultados, tal como assegurado pela legislação e matéria de acordo anteriormente firmado entre a CSN e o Sindmetal. Esse foi o início de um processo de organização dos trabalhadores, daí começou a ganhar forma uma “Comissão dos Trabalhadores”.
Ocorre que este movimento começou a crescer, atingindo após o almoço 100 trabalhadores. No dia seguinte este número foi aumentando para 200, 300, chegando a mais de 2000 trabalhadores e trabalhadoras com os braços cruzados.
Chapa 02. Foto de Marcione Oliveira
A chapa 2, que tinha o slogan “A hora da mudança”, apoiou desde o primeiro instante a luta destes metalúrgicos e os abraçou, apoiando de toda a forma possível a luta por um salário com reajuste real e uma PLR digna. Além das inúmeras assembleias e atos públicos, a Comissão dos Trabalhadores e os integrantes da Oposição Metalúrgica mobilizaram os trabalhadores e conseguiram derrotar o sindicalismo pelego rejeitando todas as propostas injustas que a empresa apresentou na negociação do acordo coletivo.
A empresa apostou no duplo golpe: o cansaço dos trabalhadores, esticando o quanto pode as negociações e na ação pelega e oportunista dos então diretores do Sindmetal. O jogo pesado foi tanto que a parceria entre os patrões e os sindicalistas traidores insistiram numa última proposta que, apesar de injusta, terminou sendo aprovada pela categoria. O pacote de maldades da parceria entre patrões e maus sindicalistas ainda incluía a demissão, em pleno acordo coletivo, de trabalhadores integrantes da oposição sindical (a chapa 2) e trabalhadores integrantes da Comissão de trabalhadores.
Depois de tantas adversidades, diante muita luta e sob a batuta da ordem judicial, o processo eleitoral para renovar a direção do Sindmetal finalmente começou. A sinergia entre a chapa 2, “A hora da mudança” e muitos integrantes da Comissão de trabalhadores forjou sólida aliança de metalúrgicos em defesa da categoria. Foi uma campanha sindical histórica, de novo os operários andavam dentro e fora de usina, distribuindo boletins, conversando com o trabalhador, discursando em carro de som e a cada dia ecoava mais a sensação de vitória dessa chapa construída na luta e destinada a transformar o sindicato em um instrumento de defesa do peão.
Os sindicalistas pelegos que ocupavam a direção sindical tentaram todas as artimanhas ilegítimas de quem não representa os interesses do trabalhador: tentaram desqualificar o quórum da eleição; tentaram toda sorte de malabarismos jurídicos, impetrando recursos na justiça para impedir que as eleições acontecessem ou que os votos fossem contados. Sem base e sem legitimidade, aqueles oportunistas viam seu cartório sindical sendo retomado pelas mãos do trabalhador.
Com o resultado das urnas de 67% dos votos em favor da chapa 2 (“A hora da mudança), fica incontestável a opção dos operários. Metalúrgicos e metalúrgicas deram uma resposta decisiva aos patrões e aos sindicalistas de oportunidade: a hora é de reconstruir um sindicato de luta e trabalhar pela dignificação dos trabalhadores.
Enfim, vale o grito que ecoava no chão de fábrica: o peão voltou, o peão voltou, o peão voltou...
コメント