Sued Carvalho, professora
Este pequeno artigo de opinião é um complemento ao “Transgeneridade é uma questão de classe (E de raça)”.
Em um texto anterior discuti sobre como a luta das pessoas trans é, também uma luta de classes, por dois motivos: 1) As pessoas trans vivem em uma sociedade construída sobre a exploração de classe, logo esta categoria é inescapável, 2) A luta de classes que ocorre em uma sociedade reproduz seus preconceitos, sendo a transfobia um destes preconceitos que perpassam a classe trabalhadora, a burguesia e todas as relações que surgem destas contradições. O mercado de trabalho, por exemplo, reproduz os preconceitos da sociedade da qual se materializa.
As mulheres trans da classe trabalhadora, no Brasil, precisam lidar com uma realidade difícil, violência, falta de apoio familiar, dificuldade de acesso à saúde e tratamentos gerais e específicos, assim como são minorias absolutas no ensino superior. É urgente que se planejem medidas afirmativas para sanar tais demandas: Garantia do direito ao trabalho digno, resgate da condição de prostituição das que padecem nesta condição, garantia de tratamento hormonal e psicológico no Sistema Único de Saúde e um amplo esforço de conscientização, de forma que sejam evitadas deserções familiares ou descriminações de qualquer natureza.
Em breve, entretanto, qualquer possibilidade da aplicação de qualquer coisa parecida com estas medidas será, inevitavelmente, letra morta. Aqueles que representam o que há de mais reacionário na política brasileira atacam a justiça do trabalho, desfiguraram os direitos trabalhistas com a famigerada “reforma trabalhista” a educação superior pública, já problemática, é difamada diariamente e ameaçada de privatização, o desemprego avança e a precarização e uberização são as únicas soluções vendida para nós pela burguesia desejosa de manter sua taxa de lucros intacta às custas da fome e da miséria generalizada.
Como se garantirá o direito das pessoas trans ao trabalho sem mecanismos de fiscalização? Que acesso terão as pessoas trans ao ensino superior em um cenário de privatização? Sem um SUS forte, bem financiado e que cubra amplamente a população será possível proporcionar o tratamento hormonal e psicológico para esta categoria da classe trabalhadora? A resposta a estas perguntas é uma só: A questão das pessoas trans é também de classe e sua luta é a de todos as trabalhadoras e trabalhadores.
Não é possível vencer imaginando que a luta das pessoas trans pelo reconhecimento e pela vida é uma questão de gênero isolada, que se resume a mudar placas de banheiros e rever nomes em dicionários, vivemos em uma sociedade divindade em classes sociais e marcada pela luta entre elas. O engajamento deste grupo nas lutas da esquerda revolucionária é imprescindível, mudar a sociedade implica ação, organização e militância ativa. Defender a saúde pública, o direito e a justiça do trabalho, tal qual a educação básica e superior gratuita e de qualidade é vital para que a concretização das reivindicações das pessoas trans trabalhadoras seja possível e está é, também, a luta da classe trabalhadora em geral.
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