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Utopia espacial para os bilionários, labor e obscurantismo para os pobres.

Foto do escritor: Sued CarvalhoSued Carvalho


Sued Carvalho, professora


Os rápidos avanços tecnológicos deveriam ser, sem dúvida, conquistas do intelecto humano a serem usadas para o benefício de todas as pessoas. Produzir mais usando menos tempo deveria servir para dar mais tempo aos trabalhadores para que aproveitassem o ócio e pudessem desenvolver outros talentos e hobbies, as descobertas no campo da saúde poderiam aumentar exponencialmente a expectativa de vida e tornar doenças graves menos mortais e as inovações na tecnologia da informação poderiam fornecer a toda a humanidade, em todos os idiomas, acesso a todo conhecimento produzido nas diversas áreas da ciência. Essa não é, entretanto, a realidade. No capitalismo globalizado a tecnologia serve para o enriquecimento de uma burguesia que fomenta a desigualdade – indivíduos para os quais dez milhões de reais são troco de pinga – assim como para o aprimoramento da repressão cujo propósito é, no fim, preservar os privilégios.


O caso do bilionário Elon Musk, oriundo de uma família que fez fortuna explorando diamantes na África do Sul, é emblemático, pois possui um patrimônio de 184,7 bilhões de dólares, o que significa que este homem, sozinho, tem uma riqueza 13 vezes maior do que o PIB do Mali, um país africano com 17 milhões de habitantes. É um nível inédito de desigualdade. Essa concentração de riqueza, entretanto, não surgiu do nada, ela é fruto da superrexploração do trabalho, de subsídios polpudos dados pelo governo estadunidense e da intervenção política em países mais pobres para garantir legislações mais favoráveis, como o próprio Musk admitiu, com um twitt, ter feito na Bolívia, mas não apenas, ela é fruto do consumismo. Gerar riqueza em quantidades tão avassaladoras capazes de dar lucros bilionários pressupõe uma rede de consumo globalizada, isto é, uma oferta absorvida sem fronteiras e uma produção incessante de novos produtos. Um carro elétrico produzido pela Tesla, uma das empresas do empresário sul-africano, precisa ser produzido em larga escala, assim como os assessórios para ele precisam também ser fornecidos pelo conglomerado. Consumismo pressupõe produção em massa, produção em massa pressupõe extração industrial de matéria prima, extração industrial de matéria prima, por sua vez, pressupõe degradação do meio ambiente.



Resultado do extrativismo exacerbado em Serra dos Carajás.


O tripé de trabalho precarizado, consumismo e superexploração do meio ambiente para gerar lucros bilionários é insustentável a longo prazo, pois, cada vez mais, estamos retirando mais matérias-primas do meio ambiente do que os ecossistemas são capazes de repor. Percebam que o problema não é o carro elétrico, mas o carro elétrico enquanto mercadoria em uma lógica de produção voltada para o hiper-enriquecimento de um indivíduo ou conjunto de indivíduos. Desta forma, na lógica do capital, mesmo o carro elétrico sendo menos poluente, ainda assim ele irá contribuir para a degradação do meio ambiente.


Elon Musk sabe que o modo de produção capitalista é gerador do aquecimento global e da destruição dos ecossistemas, entretanto não propõe uma mudança e nem deveria, pois essa mudança demandaria o fim do sistema que lhe dá, por segundo, milhões de dólares em lucratividade e isso não lhe seria interessante, então o que propõe? Exploração intergaláctica, colonização da lua e marte via SpaceX, outra empresa sua. Tudo, menos um modo de produção mais racional, baseado na continuidade da vida e no bem estar social. Elon Musk e todos os capitalistas sabem que estão destruindo este mundo e querem mais mundos para destruir. Isso não é ficção científica, é realidade.


Lixão no Distrito Federal.


Quem fica para trás? Nós, os trabalhadores e trabalhadoras, que construímos estas riquezas, inclusive os trabalhadores da ciência que trabalham nos laboratórios que elaboram estes projetos e pesquisas, não chegando a ganhar nem sequer 1% do lucro bilionário destas corporações. Neste século de desenvolvimento sem precedentes da tecnologia informacional e espacial, os jovens são mais pobres e sem perspectivas de renda do que os seus pais foram. A pobreza e a fome estão sendo agravadas e não superadas pelo capitalismo globalizado.


A Ficção está se tornando, definitivamente, científica. A grande burguesia se beneficia imensamente das novas tecnologias, contando com os melhores tratamentos médicos, enquanto trabalhadores precisam vender móveis para pagar exames e tem seus direitos a licença para tratamento de saúde cada vez mais cerceados. Enquanto a burguesia olha para o céu estrelado e vê como realidade palpável a colonização espacial, as trabalhadoras e trabalhadores são enganados, com ajuda de grandes emissoras de tv, por pastores neopentecostais obscurantistas que se aproveitam da vulnerabilidade social gerada por este sistema.



Arte conceitual do Projeto da SpaceX para colônia permanente em Marte. Utopia para os bilionários.


Enquanto imperar o capitalismo os avanços tecnológicos não serão para o benefício da humanidade, mas para aumentar o poder da burguesia. E Elon Musk, Bill Gates e sua classe sabem disso. O Socialismo representa hoje a possibilidade não apenas de um mundo mais igual, mas a única possibilidade da permanência da vida na Terra. E o tempo está acabando... Elon Musk sabe disso, mas pretende salvar apenas a si mesmo e a quem puder pagar. Eu não posso pagar. Você pode?


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