Sued Carvalho, professora.
A partir de 2015 um certo grupo, que poderia facilmente ser confundido com uma banda indie, torna-se uma das principais frentes golpistas contra o governo da ex-presidenta petista Dilma Rousseff, esse grupo é o Movimento Brasil Livre. O MBL, sigla pela qual o grupo ficou conhecido, recebendo amplo financiamento e orientação de grandes capitalistas e grupos internacionais de proliferação do movimento neoliberal como Atlas Network e Students for liberty, cresceu rapidamente e jogou no esquecimento completo elementos como o Revoltados Online que, em 2013, 2014 e parte de 2015, haviam protagonizado e hegemonizado o “Fora Dilma”.
De 2015 a 2018, vendendo-se como um grupo apartidário para um mídia cúmplice – que se furtava de denunciar a corrupção, as sonegações de impostos, crimes de calúnia, fake News e o obscuro esquema de financiamento do movimento - o MBL fez o diabo! Pareciam ter passe livre para cometer todo tipo e absurdo, de montagens esdrúxulas na internet até pesadas calúnias contra a vereadora carioca do PSOL, Marielle Franco, assassinada por milicianos. Em 2017 o PDTista Ciro Gomes, que agora quer o apoio dos “garotos”, denominou-os certeiramente como “delinquentes juvenis”.
Apesar do auto atribuído apartidarismo, ladainha que apenas enganou os crédulos, nomes do MBL como Fernando Holiday, Arhur Mamãefalei e Kim Kataguiri filiaram-se em partidos da direita fisiológica e extrema-direita como Democratas (DEM) e o PATRIOTA, após falharem na criação de uma sigla própria.
Em seus mandatos apoiaram as pautas mais extremas, no campo da direita, o deputado estadual em São Paulo Fernando Holliday, por exemplo, escreveu um projeto de lei para tornar mais pesadas as punições contra mulheres que interrompessem gestação, Mamãefalei, por sua vez, chamou sindicalistas para confrontação física, tudo isso dentro da Assembleia legislativa de São Paulo.
Com seu histórico de posicionamentos de direita à extrema-direita, o MBL só tinha um caminho a seguir nas tensas eleições de 2018: Apoiar o candidato Jair Messias Bolsonaro. E foi o que fizeram.
No ano de 2019, primeiro do mandato do fascista Jair Bolsonaro, o deputado federal Kim Kataguiri (DEM) do MBL apoiou tanto retoricamente quanto nas votações as propostas do Ministro da economia, Paulo Guedes e, em São Paulo, Holliday e Mamãefalei seguiam à risca a linha do Bolsodória (Chamemos assim o governador João Dória). O casamento, para usar uma analogia cara ao excrementíssimo presidente da República, durou pouco.
A base do MBL foi, gradativamente, tornando-se a base do Jair, inclusive no Cariri cearense, onde grupos de extrema-direita como a Liga Padre Cícero, antes próxima do MBL, rompe quando o movimento tem rusgas com o presidente. O poder de mobilização dos “garotos” se diluiu na base do Bolsonaro e, agora, o Movimento Brasil Livre, antes capaz de colocar milhões nas ruas, minguava e via-se privado de protagonismo.
Apesar de defender as mesmas pautas do excrementíssimo, Kim Kataguiri e sua banda indie liberal quer o protagonismo do processo, até mesmo para garantir uma reeleição, com João Bolsodória dá-se o mesmo. Os conflitos de ego, jamais de projeto, chegam ao ápice com pandemia de covid-19. Inicialmente o MBL segue a linha bolsonarista e alguns militantes do movimento invadem hospitais, acusando-os de estar vazios, assim como o Governador de São Paulo reluta em tomar medidas de lockdown e distanciamento.
A coisa fica feia, no entanto, quando os mortos pelo coronavírus chegam aos milhares. O que pode ameaçar mais uma reeleição do que o sangue de milhares de mortos nas mãos por pura omissão? O MBL precisava dissociar-se do bolsonarismo o mais rápido por isso e via na pandemia a oportunidade de retomar o protagonismo na extrema-direita brasileira. O Movimento Brasil Livre defende privatização de tudo que for possível, defende invasão de periferias, diminuição dos serviços públicos, fim dos direitos trabalhistas, etc., porém acredita na ciência (Ou, ao menos, na biomedicina e na infectologia).
Construída a plataforma de afastamento do Excrementíssimo era necessário dar peso ao “divórcio” (Falando em Bolsonarês aqui). Mas com que base? Nem Lula, nem Bolsonaro. Mas com quais eleitor?
Nas mobilizações chamadas pela Frente Povo na Rua a partir do dia 29 de Maio de 2021 o MBL reclamou da falta de espaço para a “direita não bolsonarísta”. Isso mesmo, o Movimento, tão atuante no golpe de 2016, agora mendigava espaço nas manifestações de esquerda. Sem êxito, pois felizmente foram mandados para pastar pela maioria dos movimentos sociais e partidos socialistas, socialdemocratas e comunistas.
O que sobra? Chamar uma manifestação “independente”, abrindo espaço para todos que forem contra o Bolsonaro. Ciro Gomes, na esperança de tornar-se o candidato da, assim chamada, terceira via, já se comprometeu a ir, assim como o Partido Democrático Trabalhista (PDT), o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e algumas tendências do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).
O que o MBL quer? É evidente, retomar o protagonismo e, para isso, os fins justificam os meios. Se for para voltar a controlar a proa da extrema-direita brasileira eles aceitarão estar ao lado de todo tipo de movimento. O Movimento Brasil Livre é uma juventude FASCISTA brasileira e os partidos e tendências supostamente de esquerda que se comprometeram a ir aos movimentos do dia 12 de Setembro estão se dispondo a tornarem-se braço auxiliar da reconquista do fascismo brasileiro pelos “garotos”.
Comprometimento com a Democracia? O MBL não tem. Pautas vitais aos trabalhadores? O MBL é contra todas. Direitos das mulheres, LGBT’s e negros? MBL trabalha ativamente contra todos esses direitos e é um obstáculo na conquista de melhorias para essas maiorias minorizadas. Qual a diferença entre o MBL e Jair? O primeiro não está no poder. Basicamente.
O que os partidos de esquerda querem indo no dia 12/09? Alguns, como Ciro Gomes, ser “terceira via”, outros no PSOL pagar de democratas bons moços e, no PCdoB, uma frente ampla feita de forma acrítica que faz até o Dimitrov se revirar no túmulo e faria Lenin perder seus últimos cabelos de susto.
Para a esquerda não (tão) burra o que sobra? O de sempre: Voltar às ruas! Progredir qualitativamente para a greve geral! Aumentar em vez de diminuir a frequência dos atos! Avançar no terreno, conquistar território e manter o domínio com um projeto claro de oposição ao neoliberalismo e ao fascismo, do qual o MBL é representante.
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