Sued Carvalho, professora
Escutando Podcasts como Foro de Terezina, Medo e Delírio em Brasília, entre outros, percebo que é cada vez maior a defesa da tese de que a união entre Lula e Alckmin é essencial e, quem discorda, não entende que o que está em jogo é a democracia. Mas que democracia é essa? Para quem ela teria, em algum momento, existido?
Em 2021, segundo o Instituto Fogo Cruzado, as chacinas em periferias do Rio de Janeiro aumentaram de 44 para 61, sendo três de cada quatro perpetradas por ações policiais, isso apesar de o Supremo Tribunal Federal ter restringido operações dessa natureza durante a pandemia. Na capital cearense, Fortaleza, encontramos outro caso extremo, onde 100% dos mortos em ações policiais foram pessoas negras.
Segundo o censo de 2010, o mais recente, 8% da população brasileira, equivalente a 17, 1 milhões de pessoas, vive em favelas. Em suma, para 8% da população, da qual 67% é negra, a Ditadura Militar nunca acabou e vive-se em um estado policial constante, temendo sempre uma bala perdida que sempre encontra um corpo negro, sem diferenciação de idade.
Outro debate que desapareceu nos últimos anos foi o da reforma agrária. No Brasil persiste o latifúndio, poderoso e ditatorial, que assassina todos e todas que contra ele protestam. Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT) o nosso país é o mais violento para camponeses, tendo marcado, em 33 anos, a macabra marca de 44 massacres camponeses que vitimaram 220 pessoas. No campo não existe, na prática, o direito a contestação e a esquerda hegemônica, especialmente figuras como Luís Inácio Lula da Silva, abraçou-se e abraça-se ao latifúndio para, anteriormente, se manter no poder via conciliação de classes e, agora, para voltar à cadeira de presidente.
Os indígenas continuam a ser, também, vítimas de genocídio. Desde a chegada dos portugueses os povos tradicionais tiveram seu estilo de vida, língua, sua cultura e suas próprias vidas atacadas. Em 2021 o ataque a comunidades tradicionais teve aumento de 21,6% segundo o atlas da violência, mas essa não é uma mácula do governo Bolsonaro apenas, pois em 2011 a construção da Usina de Belo Monte, planejada pelo governo Lula e executada pelo governo Dilma, ameaçou a integridade territorial das reservas do Xingu que, até o presente momento, não tiveram qualquer compensação por terem tido seu território afetado pela construção.
Por que os povos originários não participam ativamente, com poder deliberativo, sobre suas terras? Por que não possuem o mesmo direito a proteção de propriedade que os latifundiários que os atacam? Por que não tem direito a autodefesa? Como resolver o problema das favelas? Como acabar com as chacinas nesses espaços e melhorar a vida de quem ali vive? Onde está a reforma agrária? Por que não se discute mais? Por que após 13 anos de governos petistas os trabalhadores não possuem mais poder decisório sobre políticas públicas, privatizações, etc.? O Sr. Luís Inácio e a imprensa que defende suas alianças espúrias respondem apenas com anedotas morais e sentimentalistas sobre como o presidenciável sabe como é “passar fome.”.
A democracia brasileira, esse fantasma defendido em abstrato por jornalistas que escrevem em salas climatizadas, nunca existiu para uma parcela gigantesca da população brasileira e não foi dado um passo sequer, desde 1988, no sentido de construir uma democracia realmente popular em nosso país, onde as populações trabalhadoras tenham poder realmente participativo em decisões que afetem diretamente sua vida.
Que democracia é essa que devemos defender? Essa democracia existiu para quem?
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