Por Nicolau Neto, professor
Falta exatamente um mês para as eleições. Talvez essas sejam as mais importantes depois da redemocratização. O flerte do atual presidente para o rompimento da democracia não é novidade e muito menos é recente.
São diversos os exemplos que colocam em evidência o clima antidemocrático, como o desacreditar nas urnas eletrônicas; os constantes ataques às instituições - como o próprio STF (Superior Tribunal Federal); as dúvidas lançadas aos institutos de pesquisas eleitorais só porque não ele não está a frente nos dados divulgados, dentre outros.
Não são raros, ademais, os ataques aos veículos de imprensa, sobretudo aqueles em que quem lhes faz questionamentos são as mulheres. O último caso ocorreu no primeiro debate presidencial realizado no último domingo, 29, pelo consórcio de veículos de imprensa liderada pela Band, e onde a jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura, foi agredida verbalmente por fazer questionamentos sobre a campanha de vacinação da Covid-19.
Poderia lançar mais e mais dados, mas recordo aqui aquele mais emblemático quando o atual mandatário ainda era deputado Federal (PSC – RJ). No momento da votação do impeachment de Dilma Roussef, ele ao votar favorável ao processo de afastamento citou um torturador durante o regime civil-militar: o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do Destacamento de Operações de Informação-Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi).
Diante disso, pergunto: qual o papel da chamada “terceira via” nessas eleições? Argumentar que Bolsonaro é resultado da crise econômica gerada por governos anteriores e que ele é ainda fruto de um ato de protesto da população contra a classe política é errado. Diria ser, no mínimo, incoerente e antihistorico. Visto que se ele, o Bolsonaro, fez esse discurso contra o PT; os demais candidatos também fizeram. E muitos com propriedade. O que não foi o caso do atual mandatário. Sendo assim, é incoerente e não analisa os fatos como de fato ocorreram. Seja para conseguir votos como Bolsonaro conseguiu e usar das mesmas ferramentas que ele, seja por quererem se passar como “salvadores/as” da pátria.
E esse discurso é muito perigoso porque ao invés de contribuir para eleições amparadas em propostas e ideias, acaba por dar munição para o bolsonarismo conseguir a reeleição. E isso não é saldável para a democracia. Por último, atribuir a culpa do emergir do Bolsonaro e do bolsonarismo ao PT e a governos anteriores - a exemplo de FHC - é promover um discurso antihistórico. É antihistórico, porque o próprio impeachment de Dilma está ai como uma das provas. Era necessário tirá-la para construir caminhos que permitissem destruir todas as políticas públicas que lembrassem os governos do PT (E olha que nem sou filiado ao PT. Minha afinidade ideológica é outra). Depois, vem a Lava Jato e o caso Lula. Não preciso mencionar aqui tudo o que já foi veiculado. Mas a prova é o Lula solto e concorrendo as eleições.
Desta feita, é preciso lembrar que Bolsonaro não é uma novidade na política. Não apareceu das contradições de governos passados. Ele vem sendo eleito com suas ideias antidemocráticas e pela via democrática desde 1991.
Conclui-se, então, que o Bolsonaro e o bolsonarismo são frutos do golpe político-midiático-jurídico de 2016 e do processo eivado de passialidade da Lava Jato que prendeu Lula para que ele não disputasse as eleições de 18. Dito isso, as candidaturas chamadas de “terceira via” pelas metodologias que adotaram estão funcionando como via auxiliar de Bolsonaro. Reitero o que já afirmei em outras oportunidade: não se pode correr o risco de jogar tudo para o segundo turno.
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